Era uma vez um país distante, em um tempo também distante, com densas florestas nas quais habitavam muitos pássaros. Pássaros de todas as espécies, de todos os tamanhos e cores. O amanhecer se revestia de muitos tons e sons. Habitavam também répteis. Alguns rastejavam vagarosamente por entre as folhas, em busca de uma presa distraída. Tudo no mais perfeito equilíbrio. Haviam muitos insetos que também se valiam da fartura de folhas para se alimentar e, para sua moradia. A sombra, a umidade, os raios de sol que quebravam por entre as folhas, era o habitat ideal para aranhas e formigas.
E as flores? Cada uma mais linda do que a outra. Perfumadas. Coloridas. As abelhas e os beija-flores buscavam no seu interior o néctar e o pólen. O trabalho se assemelha a um ballet nos quais as bailarinas com seus corpos leves saltitavam, delicadamente, de lá pra cá, de cá pra lá. No fim da tarde, chovia sempre para recarregar o córrego limpo e cheio de peixes. Os peixes menores habitavam os locais mais rasos. Permaneciam entre as pedras, à espera das larvas dos mosquitos. As águas eram tão límpidas e transparentes que era possível ver o leito. Areias de todos os matizes coloriam o fundo. A correnteza formava desenhos que se modificavam rapidamente, no qual passeavam caracóis e pequenos crustáceos. O lugar era perfeito. A cada estação, o lugar se revestia de novos tons, novas cores. Alguns aproveitavam os tempos favoráveis para acasalar. Naquele país bem distante, em tempos igualmente distantes, a harmonia e o equilíbrio reinavam.
Esqueci de dizer que também havia homens. Homens que cuidavam para que tudo aquilo fosse mantido. Os homens daquele lugar entendiam que a natureza é um sistema do qual faziam parte, assim como os demais seres, animais e vegetais. Não importava a que reino pertenciam, todos eram vistos como essenciais e fundamentais. Certo dia, não se sabe bem como e nem de onde, apareceu por lá, um forasteiro. Ficava cada dia mais encantado com tudo o que descobria, lá resolveu permanecer. O solo fértil com grandes áreas, era bom para o plantio. Água em abundância era boa para irrigar a plantação. E foi assim que deu início a sua grande lavoura de soja. O pessoal somente se deu conta das transformações ambientais quando alguns peixes começaram a aparecer agonizantes, como numa dança macabra à espera da morte. Descobriram que o forasteiro havia usado produtos químicos até então desconhecidos no lugar, agrotóxicos. O forasteiro precisava produzir mais.
Ele não se satisfazia, queria mais e mais. Percebeu que podia ampliar o plantio derrubando a floresta. A floresta podia se transformar em madeira para também ser vendida. Em pouco tempo, tornou-se dono do lugar, dominava tudo e todos. Acredito que eu não tenha dito o seu nome. Era Gânancio. Não satisfeito, Ganâncio resolveu ser o presidente daquele país distante, só que agora, em um tempo nada distante.